Conheça o MFG, o partido "antivax' da Áustria

Conheça o MFG, o partido "antivax' da Áustria
Photo by Braňo / Unsplash

O partido foi fundado como uma forma de protesto contra as medidas para combate à pandemia, mas será que ele tem futuro além disso?

O partido MFG, ou Menschen Freiheit Grundrechte (algo como pessoas, liberdade e direitos fundamentais), é famoso por sua alcunha de o partido antivax austríaco. Ele foi fundado em 2021 e recentemente conquistou algumas importantes (apesar de pequenas) vitórias em eleições locais no país.

Mais recentemente, ganhou assentos parlamentares em 47 das 50 eleições locais que aconteceram no fim de fevereiro no estado de Tirol, no oeste da Áustria. Nenhum dos seus 22 candidatos a prefeituras conseguiu uma maioria ou mesmo vaga no segundo turno, porém.

Mas o que defende esse partido?

Os antivacinas austríacos

Não é 100% correto falar que o partido é antivax. A palavra em si é abrangente demais para classificar qualquer um que não seja absolutamente contra todas as vacinas.

No caso do MFG, eles são "a favor da liberdade de decisão" das pessoas.

Desde sua fundação, o partido diz que quer "restaurar nossos direitos fundamenteis e nossa democracia apunhalada", de acordo com o site oficial do MFG.

No programa do partido, a palavra "corona" aparece nada menos do que sete vezes - enquanto "Austria" (ou, em alemão, Österreich) aparece oito vezes, como base de comparação.

O primeiro parágrafo do programa partidário já começa com: "As medidas do governo durante a crise do corona são uma afronta à democracia assim como às liberdades de direitos fundamentais". O partido acredita medidas como lockdowns, uso obrigatório de máscaras e pedidos de testes, algumas das formas mais básicas de conter uma pandemia de um vírus aéreo, na verdade são "afrontas à democracia".

E além do Covid?

É muito difícil encontrar no programa ou site do partido quaisquer outras propostas que não sejam as críticas às medidas para conter a pandemia.

Mas não é impossível.

O partido defende uma "democracia mais direta", com a possibilidade da população criar referendos para derrubar medidas governamentais ou mecanismos para que o povo faça votos de não confiança e retire o chanceler, por exemplo. No parlamentarismo que a Áustria vive, esses mecanismos se chamam "eleição parlamentar".

Assim como é comum em partidos populistas, o MFG coloca a "luta contra corrupção" em seu cerne, e propõe "confisco de bens" e casos de ofensas criminais. Além disso, há outras propostas populares, como melhorar o salário para profissionais de enfermagem.

Mesmo essas medidas continuam muito ligadas à crise do coronavírus. Outras também. Na parte de "escolas e jardins de infância", por exemplo, quatro dos seis pontos são relacionados à pandemia, inclusive "abertura imediata das escolas".

O que vai acontecer com o partido com o fim da pandemia?

Sem dúvida, essa alcunha de 'antivax' e as referências sem fim às medidas contra Covid acabam deixando uma dúvida sobre qual vai ser o futuro do partido quando a pandemia acabar.

O co-fundador do partido, Michael Brunner, por diversas vezes insistiu que o partido não é apenas um opositor das medidas do governo, mas que tem outras facetas também.

Michael Brunner, advogado e co-fundador do MFG, em imagem no site do partido.

"Não é nosso único tema; nós somos necessários par ao futuro", ele disse em entrevista para o jornal austríaco Der Standard.  E completou afirmando que "vai levar anos" para o país lidar com as consequências das restrições impostas pelo governo.

Alguns especialistas na Áustria, porém, não têm tanta certeza assim da continuidade de um partido como o MFG, como o pesquisador da Universidade de Viena, Fabio Wolkenstein, afirmou para o Der Standard. Ele disse que o MFG vai precisar daquela "grande questão" que atrai as pessoas depois que a pandemia acabar.

Na época, ainda alertou que se a obrigação de vacinas contra Covid cair na Áustria, o partido vai sentir o baque.

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Ainda assim, há espaço para um partido conhecido por ser antivax crescer na Áustria. Especialmente considerando que a taxa de vacinação ainda não atingiu 70%, um dos menore síndices na Europa ocidental. E mesmo as eleições nacionais austríacas ainda distantes (devem ocorrer em 2024), ainda dá para o partido crescer, e se adaptar.

O partido de extrema-direita na Alemanha, AfD (Alternativa para a Alemanha), surgiu no meio da crise do euro e tinha como principal bandeira uma crítica persistente a quaisquer medidas de apoio à Grécia, entre 2009 e 2010.

Só que mesmo depois disso, o partido cresceu acabou crescendo mais com sua retórica contra imigração durante a crise de migrantes de 2015-2016, e continua tendo presença no Bundestag, ou parlamento alemão.

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A Áustria também tem exemplos parecidos. O próprio FPÖ, também de extrema-direita, cresceu com discurso anti-migrantes e anti-refugiados nos anos 2010, mas se adaptou e virou um dos símbolos contra o governo e suas medidas contra a pandemia.

Mesmo tendo perdido muito apoio depois de crises de corrupção, o FPÖ volta a subir nas pesquisas de opinião austríacas, impulsionado por esse discurso anti-estabelecimento.

Mesmo o MFG reiterando que está "fora do espectro político" e não é nem de direita nem de esquerda, mas sim um "partido cívico", ele pode muito bem estar de olho em como a extrema-direita vem se adaptando nos últimos anos para continuar se segurando à essas discussões polarizadoras.

Um texto sobre esse tema pode ser lido aqui, em inglês: EXPLAINED: Who are MFG – Austria’s vaccine-sceptic party?


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